quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Max Weber, Tipos Ideais e Utopias




Uma discussão de que é o "tipo ideal" do Max Weber pode ser encontrada aqui. No entanto, ao que me parece, o nexo dessa diuscussão pode ser resumido da seguinte maneira:

Criar uma descrição de uma realidade cultural que "considerasse todas as circustâncias ou variáveis envolvidas num determinado acontecimento, torna-se uma pretensão inatingível" (Quintaneiro: 2003: p. 98).

Weber estava colocando o "tipo ideal" em oposição à noção de que existe "leis universais": o tipo ideal era para ser usado como mapa, para guiar nossos pensamentos sobre um determinado objeto de estudo. Weber estipulava que o tipo ideal tinha três características:

1) Era utópico
2) Era racional
3) Era unilateral.

Por "utópico", Weber queria dizer que não devemos encontrar um exemplo perfeito do tipo ideal em qualquer lugar da realidade: era uma abstração para guiar nossa análise da realidade, não um retrato fiel da realidade. Era "racional" porque era fundada em evidências retiradas da realidade e não, por exemplo, da imaginação do criador. Finalmente, era unilaterl porque era uma imposição de seu criador sob a realidade, e não vice-versa --- em outras palavras, a realidade (Deus, Mãe Natureza, os Cosmos) não exigia que o tipo ideal fosse feito: o homem, seu criador, o fiz.

Weber pensava em "tipos ideais" como conceitos de razoável amplitude como, por exemplo, "a religião" ou "a prostituição". Eu, porém, sou mais radical: eu vejo o "tipo ideal" como qualquer excercício de imaginação sociológica. Em outras palavras, qualquer descrição da realidade criada pelo pesquisador há de ser incompleta e uma abstração utópica: a realidade é infinitamente complexa e nossas descrições dela são necessariamente incompletas. 

A Jessika pergunto "Mas como é que a descrição pode ser utópica se fala de algum lugar real?" Boa pergunta. A palavra "utopia" vem do Grego "u topos", ou "lugar que não existe". Utopiassão, tradicionalmente, histórias que contamos de lugares que não existem para puder falar de lugares que, de fato, existem. A história utopica mais velha talvez seja a de Atlantida, criada para puder criticar a cultura grega de sua época. Da mesma maneira, quase todas as histórias de fantasia e de ficção científica não deixam de ser utópicas, uma vez que criam mundos que não existem para falar de nosso mundo atual e passar um moral ao leitor ou espectador.

A etnografia (ou a descrição antropológica) de algum povo o lugar e seus costumes é, da mesma maneira, utópica. Não importa a quantidade de detalhes que o antropólogo coloca em sua descrição, sua descrição permanece uma história, uma abstração, uma ficção, enfim, contada sobre o lugar real. A realidade é aquilo que o antropólogo visa descrever e não sua descrição, que nunca vai puder levar em conta toda a realidade em sua complexidade.

Então qual é a diferença entre um antropólogo ou um sociólogo e um escritor de fantasias como J.K. Rowling (a autora de "Harry Potter")? A diferença é que os cientistas sociais fazem descrições da realidade. Eles seguem, em fim, os preceitos da racionalidade quando escrevem suas ficções. Eles não inventam histórias simplesmente porque gostam ou querem: tentam descrever a realidade ao grau máximo que podem.
 




Bibliografia

QUINTANEIRO, Tania, Maria Ligia de Oliveira Barbosa, Márcia Gardênia Monteiro de Oliveira. 2003. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: UFMG.

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